Existe um pecado que bons cristãos de classe média cometem mais do que o pecado da preocupação?
Você acorda dez minutos depois do que esperava e a ansiedade já começa a tomar conta de você: e se eu estiver atrasado? E o tráfego? Como está o clima? Você passa na frente do espelho e se preocupa que seu rosto tem mais rugas do que costumava ter. Desce as escadas correndo e, porque está com pressa, deixa seus filhos comerem qualquer coisa que queiram, e aí, então, você começa a se preocupar se o açúcar realmente causa câncer. Enquanto arruma as crianças, você se dá conta que um de seus garotos não fez o dever de casa, de novo. Você se preocupa por não saber se ele algum dia vai ter juízo e, enquanto deixa seus filhos na escola, você se preocupa com a possibilidade deles se envolverem com a galera errada ou se vão cair da escada horizontal.
Assim que chega em casa, você checa o Facebook apenas para relaxar. Lá você lê sobre quão incríveis são as crianças de todas as outras pessoas e sobre todos os fantásticos cupcakes que suas amigas fazem e você se preocupa com a possibilidade de ser um fracasso como mãe. Mais tarde, nessa mesma manhã, você sente aquela dor no seu joelho novamente. Você se preocupa com a possibilidade de ter que fazer uma cirurgia de substituição total da junta do joelho e se o seguro irá cobrir e como você irá pagar por isso e quem irá tomar conta das crianças se você estiver imobilizada por um mês. Então você se preocupa com a dor que talvez esteja um pouco pior, assim você checa todos os sites médicos e se dá conta de que você provavelmente tem um caso raro de coqueluche que se espalhou para seus membros.
Horas mais tarde, quando seus filhos estão na cama, você liga a televisão para se esquecer do que aconteceu no dia. À medida que passa os canais e se envolve com as notícias, você começa a se preocupar com a economia e o vórtice polar e o aumento da criminalidade na sua cidade. Você se preocupa com as divisões raciais no país e como irá falar com seu amigo que vê as coisas de modo pouco diferente e, talvez, você se preocupa por não saber se a polícia a trataria com justiça ou se preocupa com a segurança de seu irmão que é policial. Então, você desliga a TV e fala com seu esposo e se preocupa com a tosse dele que não parece melhorar e se preocupa com as demissões que estão acontecendo no trabalho. E, finalmente, ao se deitar para dormir você sente uma tremenda sensação de ansiedade e nem sequer sabe o porquê. Por razões que não consegue sequer entender, você começa a se preocupar com sua vida e seus filhos e seus pais e sua igreja e sua saúde e com voar e dirigir e dormir e comer e um medo generalizado de que os dias futuros poderiam ser realmente ruins.
Consegue se identificar?
Jesus pode ajudar.
Preocupação pode ser o pecado mais comum entre as pessoas “normais” da igreja. Agora, você pode achar que isso não é muito encorajador. “Ótimo, eu me preocupo com tudo. E agora, além da minha preocupação, eu vou me sentir mal por me preocupar e vou me preocupar com isso.” Mas seja encorajado: Se preocupação é apenas uma parte de sua personalidade ou parte do que envolve ser mãe (ou um estudante ou um empresário ou o que quer que seja), Deus pode não fazer nada para ajudá-lo. Mas se preocupação é um pecado, então Deus pode perdoá-lo por isso e ajudá-lo a superar isso.
Mateus 6.25-34 é uma das grandes passagens da Bíblia sobre preocupação. Jesus diz três vezes “não andeis ansiosos” (25, 31, 34). Mas ele não para aí. Jesus está interessado em mais do que transmitir comandos. Ele quer trabalhar com os nossos corações. E então ele dá sete razões por que não deveríamos ser ansiosos.
Razão #1: A vida é importante demais (Mt 6.25). Nós precisamos endireitar nossas prioridades. Realmente importa que você tenha as coisas boas da vida; comida, bebidas extravagantes, roupas luxuosas? Você está vivendo toda sua vida por uma etiqueta na parte de trás de suas calças ou no interior de sua camisa que a faz se sentir a “tal”? Você vai olhar para o seu passado e desejar ter sido mais exigente quanto às suas escolhas de vestuário? A vida não é mais do que um aglomerado de células tentando conseguir seu sustento, tentando se sentir bem, tentando ter uma boa aparência?
Vivemos em uma era na qual as pessoas enlouquecem por causa de comida. Enquanto a maioria das pessoas ao longo da história mundial tem se preocupado em saber se conseguirão alguma coisa para comer, nós nos preocupamos com o tipo de vida que a galinha teve antes de a comermos. Eu não estou dizendo que não deveríamos nos preocupar com a maneira como os animais são tratados. Porém, vamos nos lembrar de que a vida é mais do que o alimento e o corpo é mais do que as vestes.
Razão #2: Você é importante demais (Mt 6.26). Nós não apenas insultamos Deus quando nos preocupamos com comida e roupas e dinheiro, insultamos nós mesmos. A preocupação diz ao mundo, “Eu não tenho valor”. A ansiedade é uma afronta a bondade de Deus e ao valor do homem e da mulher feitos à sua imagem. Deixem os pássaros e esquilos serem seus pregadores. Deus os está alimentando. Quando os vir a encarando através da janela, eles estão dizendo: “O que você está olhando? Confie em Deus.” Quando você ouvir os pássaros cantando, eles estão cantando uma canção para lembrá-lo da provisão de Deus. Deus cuida dos pequenos animais; ele cuidará de você.
Razão #3: Não faz bem algum (Mt 6.27). Você já refletiu sobre os tempos difíceis da vida e pensou: “Não sei como teria conseguido fazer aquilo se não tivesse me preocupado?” Ninguém reflete sobre o passado e conclui: “O dinheiro estava curto, mas a preocupação realmente me fez superar.” “O ensino fundamental foi difícil. Eu apenas gostaria de ter me preocupado mais.” “O diagnóstico foi assustador, mas então eu consegui que todos os meus amigos se preocupassem juntamente comigo.”
Se agora todos nós fizéssemos uma pausa por alguns segundos e nos preocupássemos com o pagamento do carro, o pagamento da hipoteca ou com a possibilidade de estarmos sem seguro, não viveríamos nem um segundo a mais. Eu não chequei isso com os médicos que conheço, mas não acho que eles, em momento algum, se aproximem do leito e digam ao paciente: “Bem, senhora, o quadro não parece bom. Tudo que podemos fazer neste momento é nos preocuparmos.”
O homem não sabe sua hora. Não cabe a nós dirigirmos os nossos passos (Jr 10.23). Todos os nossos dias foram escritos no livro de Deus quando nem um deles havia ainda (Sl 139.16). Você e eu precisamos admitir que somos impotentes com relação a certas coisas. Eu sou impotente para fazer todo tipo de coisa. Não posso fazer alguém crer no evangelho. Não posso ressuscitar os mortos. Não posso sentar ao lado do berço por toda uma noite para garantir que o bebê continue respirando. E certamente não posso viver nem mais um nanossegundo além do que devo viver. Ninguém jamais viveu uma hora a mais por ter se preocupado com quando iria morrer.
Razão #4: Deus se importa com você (Mt 6.28-30). Deus faz as flores do campo crescerem. Por quê? Porque ele quer. Porque elas são bonitas. Porque ele é criativo. Porque ele gosta de beleza. Porque ele quer que as pessoas desfrutem delas. Porque ele se importa com as flores. E ele cuida até mesmo da relva. A relva vai morrer. Seu gramado ficará marrom. Vai ficar frio, congelado, morto – provavelmente já está. Mas em alguns meses, tudo vai reverdecer. E você não terá nada a ver com isso. Talvez você plante algumas outras sementes. Talvez você contrate um especialista em cuidado de gramados para ajudar a deixar tudo excelente. Mas mesmo se você não fizer nada, a relva voltará a crescer. Porque Deus é Deus e ele gosta de grama verde.
Você vê o que Jesus chama de preocupações? Ele nos chama de “os de fé pequena.” Nossa preocupação é um insulto para o caráter de Deus. Quando nos preocupamos, não estamos acreditando na verdade sobre Deus. Nós estamos duvidando que ele vê, que ele sabe, que ele se importa, que ele é mais do que capaz. Fé é mais do que uma vaga noção de que Jesus existiu e que vamos para o céu se pedirmos para ele entrar em nossos corações. Fé é uma maneira prática de olhar para o mundo. A fé bíblica se estende para toda a vida, não meramente a salvação de nossas almas. Quando nos preocupamos, estamos dizendo a Deus: “Não confio em você para conduzir a minha vida. Eu não acho que você realmente esteja no controle. É melhor eu me preocupar com essas coisas. Preciso fazer tudo para tomar conta de mim mesmo porque não tenho certeza de que você irá.” Mas pense sobre isso: Deus cuida de animais selvagens. Ele toma conta de flores do campo. Ele cuida até mesmo da relva. Por que ele não cuidaria de você?
Razão #5: Os pagãos se preocupam (Mt 6.30-32a). Alguns de nós nos preocupamos tanto que podemos até ser ateus. Estamos vivendo como se Deus realmente não existisse. É isso que os pagãos fazem.
Um pagão não tem que ser alguém que adora ídolos e sacrifica sapos. Um pagão é alguém que acha que a vida consiste em que se vai comer, em que se vai beber, em que se vai vestir. Pagãos pensam que a vida consiste na abundância de suas posses. Pagãos gastam e acumulam seu dinheiro como se não houvesse um Deus no universo os protegendo e cuidando deles.
Deixe-me pausar aqui porque alguns de vocês estão fazendo a pergunta que o resto de nós tem medo de dizer: “Mas e se Deus não cuidar de mim? E os cristãos morrendo de fome? E os cristãos sendo expulsos de suas casas? E os milhares de bons cristãos que, nesse ano, irão morrer de câncer e por causa de acidentes de carro ou ataques cardíacos? Deus não promete cuidar deles também?”
Essas são perguntas aceitáveis – e perguntas que não iriam surpreender Jesus ou qualquer dos escritores da Bíblia. O livro do Apocalipse fala sobre um determinado número de mártires. Paulo disse aos Romanos que mesmo em meio à tribulação, perseguição, fome, nudez, perigo, espada e matança, nós seríamos mais do que vencedores. Jesus disse aos seus discípulos: “E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma.” (Lucas 21.16-19). Jesus nunca disse aos seus discípulos que ser um cristão era um vale gratuito para sair do sofrimento.
Então, podemos contar com Deus ou não?
Primeiro, precisamos nos lembrar do contexto. Jesus está falando sobre pessoas que servem a mamom ao invés de servirem a Deus (Mt 6:24). No relato de Lucas 12, Jesus está falando sobre ricos tolos construindo celeiros maiores e sobre pessimistas preocupados acumulando tesouros na terra. O que ele está tentando provar é que nós não morreremos por causa de generosidade elevada. Essa é a primeira coisa a notar.
Mas isso é apenas parte da resposta. Eu acho que o resto da resposta é encontrado no versículo 32: “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas”. O que são “elas”? Os versículos 30 e 31 sugerem que “elas” sejam comida e bebida. E para quê nós precisamos dessas coisas? Para viver. Deus sabe o que nós precisamos para continuar a viver… tão longo ele quer que vivamos. Deus sabe que precisamos de roupas, comida e bebida para viver e nos dará todas as roupas, comida e bebida para vivermos até que ele queira que morramos.
Isso é baseado em uma profunda verdade teológica: Deus não é estúpido. Deus nos vê. Ele sabe que estamos aqui. Ele não saiu para almoçar. Ele não está tirando um cochilo. Ele não é como um pai que perde um filho em alguma outra parte do supermercado. Ele é por você, não contra você. Jesus não promete que todos os seus sonhos mais mirabolantes irão se concretizar, mas promete que Deus irá lhe dar o que você precisa para glorificá-lo e para viver todos os dias que ele escreveu em seu livro.
Isso pode soar meio bobo, mas é realmente profundo. Há mais na vida, Jesus está dizendo, do que viver. Nós iremos morrer. Então, não faça com que seu objetivo na vida seja simplesmente permanecer vivo; você irá falhar nesse aspecto. Nós estamos aqui para fazer mais do que evitar a morte. “Deus lhes dará toda a comida e bebida e roupas que vocês precisam para viver”, diz Jesus. “E quando eu quiser que parem de viver, vocês irão parar de viver. Eu estou no controle. Vocês foram colocados aqui por uma razão maior do que apenas viver.” Seja consumido, diz o v. 33, com o reino. Seja consumido com o vislumbre do reinado e do domínio de Deus sobre sua vida, sua família, sua igreja, e os povos perdidos do mundo. Afinal de contas, você não é um pagão.
Razão #6: O reino é mais importante (Mt 6:33). Jesus quer libertar os pessimistas preocupados. Quando nós temos carros, barcos, tratores e casas bacanas, nós nos preocupamos com eles. E se um acidente acontecer, ou um raio cair, ou um ladrão invadir a casa? Jesus diz “Que tal um tesouro melhor? Por que não perder sua vida pelas coisas que permanecem?” Como diz Randy Alcorn, “Você não pode levar o dinheiro com você, mas pode enviá-lo antecipadamente.”
Não se livre de todos os seus alvos: substitua seus alvos pagãos por alvos piedosos. Seja consumido com o reino. Seja consumido com o vislumbre do reinado e do domínio de Deus sobre sua vida, sua família e sua igreja. Gaste-se pelos povos perdidos do mundo. Faça de sua prioridade apresentar mais pessoas ao Rei, traga mais pessoas para o reino, treine pessoas para viverem sob a autoridade desse Rei e de seu reino.
Jesus pode não tornar sua vida fácil, mas ele fará sua vida feliz. Ele quer nos libertar da busca por becos sem saída aos quais temos nos metido. Se você vive por causa do dinheiro, tem razão de estar ansioso. Se a coisa mais importante em sua vida é sua carreira, isso pode dar errado. Se sua saúde ou sua aparência ou seus filhos são suas paixões reais, você pode se decepcionar grandemente. Você tem razão para se inquietar. Mas se você busca o reino em primeiro lugar, você não pode perder.
Razão #7: O amanhã estará ansioso por si mesmo (Mt 6:34). A graça de hoje foi para as provações de hoje. E quando as provações de amanhã chegarem, então Deus terá uma nova graça esperando por você.
Ansiedade é viver o futuro antes que ele chegue. “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.” (Lm 3:22-24).
O que irá acontecer amanhã?
Eu posso lhe dar mil exemplos de coisas que não sabemos – diagnósticos, acidentes, empregos, testes, encontros, bebês, críticas, conversas difíceis, até a morte. Nós não sabemos o que irá acontecer amanhã. Mas aqui está uma coisa com a qual você e eu podemos contar: haverá novas misericórdias do Senhor quando chegarmos lá.
Como posso parar de me preocupar? Conte com o apoio de Jesus. Mas também olhe para Jesus. Ele vê. Ele sabe. Ele se importa. Ele é um compassivo sumo sacerdote. E ele nunca irá deixá-lo nem abandoná-lo.