Os antigos puritanos chamavam este aproximar-se de
“comunhão com Deus”. Precisamos aprender deles. J. I. Packer afirmou que os
puritanos diferem dos evangélicos contemporâneos, porque para eles:
A comunhão com Deus era algo muito
importante; em comparação ao que pensam os evangélicos
contemporâneos, a comunhão com Deus é algo insignificante.
Os puritanos eram interessados pela comunhão com Deus de um modo que não o
somos. A medida de nosso interesse é mostrada pelo pouco que falamos a respeito
deste assunto. Quando os crentes se reúnem, falam uns com os outros a respeito
de suas obras e seus interesses cristãos, de seus conhecidos cristãos, da
situação de suas igrejas e dos problemas de teologia – mas raramente falam
sobre a experiência diária com Deus (A
Quest for Godliness, Wheaton, Ill.:
Crossway Books, p. 215).
De acordo com Packer, o maior dos
puritanos foi John Owen (1616-1683). A própria comunhão que Owen tinha com Deus
é um grande exemplo para nós. Deus cuidou que Owen e os puritanos sofredores de
seus dias vivessem nEle, de um modo que faz a maior parte de nossa comunhão com
Deus parecer superficial. Escrevendo uma carta durante um período de
enfermidade, em 1674, Owen disse a um amigo: “Cristo é nosso melhor amigo e
logo será o nosso único amigo. Peço a Deus, com todo o meu coração, que eu me
fatigue de tudo, exceto da conversa e da comunhão com Ele” (Peter Toon, God’s
Statesman,Greenwood, S. C.: The Attic Press, p. 153).
Deus usou a doença e todas as
pressões sofridas por Owen em sua vida para orientá-lo na comunhão com Ele
mesmo e mantê-lo envolvido nesta comunhão.
Mas Owen também era intencional em
sua comunhão com Deus. Ele disse: “A amizade é mantida e preservada por meio de
visitas; e estas devem ser espontâneas e não somente motivadas por assuntos
urgentes...” (John Owen, Works, VII, Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1965, p.
197).
Em outras palavras, em meio a todos
os seus labores políticos, acadêmicos e eclesiásticos, Owen fazia muitas
visitas a Deus.
E, quando ele fazia essas visitas,
não ia somente com petições por coisas ou por livramentos de suas muitas
dificuldades. Ele as fazia para ver seu glorioso Amigo e contemplar-Lhe a
grandeza. O último livro que Owen escreveu – quase concluído quando ele morreu
– chama-se Meditações sobre a Glória de Cristo. Isso nos diz
muito a respeito do foco e do resultado da vida de Owen. Neste livro, ele
disse:
A revelação... de Cristo... merece os
mais solenes pensamentos, as melhores de nossas meditações e nossa maior
diligência nelas... Que melhor preparo pode haver [para o nosso futuro gozo da
glória de Cristo] do que a contemplação prévia e constante dessa glória, na
revelação feita no evangelho? (Works, I,
275).
A
contemplação que Owen tinha em mente é formada de, pelo menos, duas coisas. Por
um lado, existe aquilo que ele chamou de “pensamentos solenes” e “melhores
meditações” ou, em outro lugar, “meditações assíduas” e, por outro lado, oração
incessante. As duas são ilustradas em sua obra sobre a Epístola aos Hebreus.
Uma das grandes realizações de Owen
foi o seu comentário, de sete volumes, sobre essa epístola. Quando o terminou,
próximo do fim de sua vida, ele disse: “A minha obra está completa; é tempo de
morrer” (God’s Statesman, p.
168).
Como ele realizou esta grande obra e
permaneceu próximo de Deus? Obtemos uma resposta breve no prefácio daquela
obra:
Tenho de afirmar agora que, depois de
toda a minha pesquisa e leitura, a oração
e a meditação assídua têm sido meu único
abrigo, bem como os meios mais proveitosos de obter entendimento e auxílio. Por
meio delas, meus pensamentos foram libertados de muitos embaraços (Works, I, lxxxv).
Era
assim que John Owen se aproximava de Deus, por meio da oração e da meditação
assídua, achando entendimento e liberdade. Esse era um zelo de comunhão com
Deus marcado por entendimento. Esse é o tipo de zelo que desejamos. Esse é o
entendimento pessoal agradável que mantém nosso zelo em seus limites e o faz
brilhar com mais intensidade. Com esse zelo e entendimento, aproximemo-nos, dia
após dia, hora após hora.
Texto
de John Piper
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